#Nos40DoSegundoTempo

Le Plaunteur & Yangoods surpreendentes…

Durante meus dias em Yangon, minha rotina era quase sempre a mesma: acordar muito cedo, tomar café da manhã no hotel, entrar no ônibus com o meu grupo e, partir para os nossos passeios diários. Por isso, a gente não podia esquecer nada, caso contrário ficava sem.

Eu sempre fazia o meu check list pela manhã – lente de contato, caixinha da lente, soro para a lente, óculos com grau, óculos escuro sem grau, óculos escuro com grau, carteira, câmera fotográfica, celular, bateria extra para celular, batom e eu acho, que era tudo isso, o que eu precisava para passar o dia tranquila.

Mesmo assim, tudo isso não adiantou nada, porque justamente no dia em que tínhamos um jantar bacana, mais arrumadinho, não tivemos tempo de voltar para o hotel para dar um tapa no visual – nem o batom, deu um up pra essa carinha cansada.

Enfim, nosso ônibus estacionou a alguns metros de distância do restaurante (não dava pra entrar, na estreita rua de terra) e lá fomos nós, andando até o restaurante. Confesso, que não esperava muita coisa, afinal até então, todos os restaurantes que havíamos ido, eram bem “normais”, simples mesmo, sem nenhum luxo, mas todos serviam uma comida local e bem feita, por isso a minha descrença.

Quando eu passo do portão, tenho uma grata surpresa. Um restaurante francês lindíssimo, nos aguardava. Voltando um pouquinho no tempo, pela manhã, uma instafriend que por coincidência estava pela Ásia, me recomendou um restaurante, mas como estou em um grupo, muito provavelmente seria impossível sair do roteiro. E qual não foi a minha surpresa?! era o mesmo restaurante.

Devo dizer que naquele instante, me senti em qualquer lugar do mundo, menos em Yangon. Aquilo era completamente discrepante do resto da cidade inteira. Um belíssimo casarão, ao melhor estilo britânico colonial, nas margens de um lago. Eu pensei “Para, não pode ser verdade!!”.

Não dá pra descrever, sem mostrar a foto do lugar, olhem vocês mesmo e entendam a minha reação.

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Estão vendo?! eu não menti. Não é escandalosamente incrível, um restaurante desses onde o Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,583 e o país ocupa o ranking de 132* (de 177 países listados)?! chego a uma conclusão: o mundo é surpreendente e, é por isso que eu amo tanto viajar por ele.

O Le Planteur existe desde 1998, nos seus primórdios, suas instalações eram bem mais modestas, encontrar o caminho do restaurante, pela rua estreita e irregular em Yangon, era quase como uma caça ao tesouro. Oito anos depois o restaurante foi relocado para uma casa maior, na estrada Kabar Aye Road.

Recentemente (pouco menos de um ano), o Le Planteur se mudou novamente, dessa vez para a tal bela casa do lago, Inya Lake, 80 University Avenue.

* Le Planteur  possui um equipe de 56 pessoas sob a direção de seu proprietário chef Boris Granges e Ma Myint Eja, o diretor operacional há 18 anos. A cozinha está sob os cuidados de Emmanuel Delorme e o serviço sob a direção de Kyaw Oo Thein por quase duas décadas.

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Where to eat in Yangon? Le Planteur’s best!
The Wall Street Journal

Porém, sabe aquela poesia do Drummond?! sim, aquela mesma. Então, Tinha uma lojinha no meio do caminho, no meio do caminho tinha uma lojinha. Minha gente, uma lojinha das mais fofinhas (dentro do próprio restaurante),  tudo muito surpreendentemente. Eu sei, eu sei, pareço meio sem vocabulário, repetindo as palavras, mas como definir tamanha surpresa, hein?!

A mulherada foi em massa visitar a lojinha, que ficou pequena para tantas brasileiras ávidas por novidades asiáticas. Diferente do artesanato local, este era mais refinado, bem acabado e de maior qualidade. Procurei saber sobre a marca e descobri que um trio de mulheres: uma francesa, uma birmanesa e uma sul-coreana se juntaram para criar ao Yangoods, que vende até pela internet.

O lema da marca é a mistura da herança cultural de Myanmar, seus heróis, seus símbolos e relíquias, aliados a arte do século XXI, mostrados de uma maneira vintage, ou seja, um monte de coisinhas bonitinhas para a decoração de casa, acessórios, bolsas, necessaries e souvenirs.

O que eu mais achei legal, foram as almofadas da marca, que inclusive fazem parte da decoração do restaurante, em questão. Levei duas pra minha casa (deveria ter levado mais), que já estão enfeitando o meu quarto.

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Fotos: DQZ/Reprodução

Yangon – cidade do passado

Grande expectativa para chegar a Yangon, afinal essa seria a nossa primeira cidade em Myanmar. Saímos do aeroporto direto para o mercado, não dava pra perder tempo com check- in, isso ficaria pra depois. Aliás, a nossa viagem foi marcada pela correria, nada de perder tempo com bobagens (aja, fôlego).

Pela livrinho que a nossa agência de viagem nos mandou, a descrição da cidade era a seguinte:

The streets of downtown Yangon overlooking City Hall and Sule Pagoda

“Yangon, ex-capital de Myanmar (hoje a capital administrativa fica em Nay Pyi Daw) é também o principal ponto de entrada no país. Foi fundada pelo Rei Alaungpaya em 1715, junto a uma pequena comunidade chamada Dagon.

O nome Yangon significa “Fim do Conflito”, mas foi anglicizado – V.pr. Tomar caráter inglês, imitar os costumes ingleses – para Rangoon, depois da ocupação britânica, em 1885. Possui hoje uma área de 350 km˙ em 14 metros de altitude e uma população de cerca de 5 milhões de habitantes.

A população da cidade é uma mistura de britânicos, birmaneses, chineses, indianos, entre outros, e, é conhecida por sua arquitetura colonial, que apesar de decadente, continua a ser um exemplo quase único de uma capital colonial britânica do século XIX. Yangon continua a ser uma cidade do passado”.

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Ok, descrição na cabeça, estava na hora da realidade. Durante o começo do nosso percurso, nada me chamava muito à atenção até passarmos por uma avenida, onde ficavam a maioria das embaixadas, na verdade os escritórios de representação – no caso, durante a ditadura militar, o país recebeu duras sanções e com isso, rompimento das relações diplomáticas com a maioria dos países – o Brasil estava lá, localizado em uma bela casa.

O trânsito era um tanto caótico, os carros bem mais para os velhos do que para os novos. As edificações bastante castigadas pelo tempo e falta de manutenção, o que acabou me passando uma sensação de pobreza (além da conta), não que eu esperasse uma cidade rica e próspera, mas fiquei um pouco receiosa e pensativa, “será que eu só veria aquilo?!”

Enfim, primeira parada, como eu já havia dito, Mercado de Bogyoke. Umas das grandes atrações turísticas de Yangon. Localizado bem no centro da cidade. Seu antigo nome era Scott, chamado durante a época colonial britânica, mudado para Bogyoke, em homenagem ao famoso general Aung San, assassinado em 19 de julho de 1947.

Muito popular entre os turistas, contém uma grande variedade de tecidos, artes e artesanato, souvenires de toda espécie, pedras e jóias, além de perucas, é claro. Sobre os preços, pouco posso comentar, acabei comprando algumas pulseiras “supostamente” de pedras e uma peruca rosa, ainda estava apanhando com o dinheiro local, uma confusão de zeros, que honestamente, se eu paguei muito caro, nunca vou saber, melhor.

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Depois da farofa que foi nossa passagem pelo mercado, tudo começou a ficar mais bonito. Viramos atração por onde andávamos. Passamos pelo parque da cidade e em seguida, entramos numa pagoda. O calor que fazia era infernal, uma umidade insana, que fazia nossa roupa colar no corpo. Nada de pernocas de fora, pelo menos para entrar nos templos dê um jeitinho de se cobrir, amarre um lenço ou passe calor com uma calça comprida. Afff.

Para mudar a minha primeira impressão do lugar, no dia seguinte fomos conhecer uma vila de pescadores, lugar como posso dizer, bem real, rural, onde a vida acontece do jeito que sempre foi. Pegamos o ferry, atravessamos o rio Yangon e quando eu percebi, estava sentada no rickshaw de um menino andando pelo povoado, aliás uma procissão de turistas andando em fila indiana.

Andamos por vários lugares, passamos em frente as casas dos moradores, estes continuavam a fazer suas tarefas do dia a dia, mas não sem antes nos sorrir e nos cumprimentar, com seu gostoso “Mingalaba”Nossa parada principal, foi em uma escola monástica para pequenas crianças carentes, cuidadas pelos monges. Quanta doçura. Recebemos tanto carinho e amor daquelas crianças, que a vontade era levar uma meia-dúzia delas comigo.

Pouco a pouco, a minha sensação em relação aquela cidade foi mudando. Eu não enxergava mais aquela pobreza como algo horroroso, que eu não poderia suportar conviver. Passei a enxergar com outros olhos, talvez quando a gente se distância das nossas origens e passa a ter uma visão menos comprometida, menos imparcial, a sensação muda, você absorve aquilo com mais naturalidade e menos preconceito.

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Fotos: DQZ/Reprodução

Um guia, chamado Khin

Durante essas duas semanas viajando por Myanmar, fomos acompanhadas por uma figura muito especial, seu nome de batismo é Khin Maung Aye, mas poderia ser “Cute boy”.

Foi chamando todas nós de Princesas, que ele passou a nos cativar instantaneamente. Nada foi forçado ou muito menos premeditado, simplesmente foi natural.

Sua bondade e seu jeito quase ingênuo, sem a nossa malícia do ocidente, fazia dele uma criança marota. Que adorava contar piadas, devo confessar que elas eram as mais infames e sem noção ever.

Porém, quando se tratava do seu trabalho, ele era a dedicação em pessoa. Nunca se atrasou, sempre disposto e atencioso, com todas nossas dúvidas e caprichos. Sem contar, o orgulho que sentia ao nos mostrar as lindezas do seu país.

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Untitled A primeira lembrança do Khin, mais marcante foram algumas (poucas) horas depois de nos buscar no aeroporto e se apresentar para o grupo, ele nos levou ao mercado de Yangon. Tivemos cerca de 1 hora para as compras, que supostamente deveriam ser sobre o artesanato local.

Mas, como em uma histeria coletiva, daquelas que contagia o grupo todo, nós resolvemos comprar um item nada convencional para uma viagem à Ásia, cada uma de nósuma a uma, saía para buscar a sua peruca. Eram, perucas de várias cores: rosa, verde, azul, branca, vermelha e por aí, afora.

De repente, aquele bando de mulheres, todas “enperucadas”, apareceram na entrada do mercado, onde nosso anjo da guarda, aguardava por todas nós pacientemente.

Seu rosto, ao olhar tamanha bizarrice, se transformou, parecia não acreditar naquele escândalo todo, até porque em minutos, passamos de meros turistas a atração principal do lugar.

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Untitled Sabem como são os brasileiros, não é mesmo?! somos felizes e adoramos uma farra. O mercado parou, fizeram uma volta ao redor do grupo todo e todos queriam tirar fotos, foi difícil para o nosso guia, tão responsável conseguir nos tirar de lá. Estávamos adorando aquela zona toda.

Enfim, Khin nos aguentou, nos ensinou, nos agradou e nos mimou. Nos despedir dele foi super emocional, carinhosamente ele havia separado um presente para cada uma de nós. Um pequeno discurso de agradecimento e o angustiante nó na garganta, não resisti à umas lágrimas, foi inevitável.

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Fotos: DQZ