Dia desses escrevi no Instagram sobre a minha dificuldade em vestir roupas brancas, eu sou daquele tipo de mulher que sofre da velha “SRB” (síndrome da roupa branca), sensação pertencente a mania de achar que a cor tem o poder de “me deixar maior” ou aumentar as minha medidas – na barriga.
Aliás, quem nunca ouviu a frase clichê “Roupa branca engorda”, sendo estritamente proibida o seu uso para quem não fosse considerado padrão de modelo fitness/estético/passarela.
Não, definitivamente eu não sou nenhum uma desses modelo, NUNCA almejei ter um corpo que saltasse aos olhos dos outros, não tenho absolutamente nada contra, acho legal, mas definitivamente não é para mim, por milhares de razões particulares, eu não teria a dedicação e abnegações necessárias para (no meu ponto de vista) tantos sacrifícios, tudo em prol de um pseudo padrão (criado/imposto) em relação ao meu corpo da mulher. Ok, algumas mulheres simplesmente não fazem esforço, são “modelos por natureza”, e, isso não tem problema algum. Não tenho a intenção de fazer apologia contra o corpo de quem quer que seja, apenas estou constatando o quanto essa relação pessoal de cada uma de nós, desde sempre foi tensa.
Meu negócio sempre foi comer sem culpa, sem restrições. Fato, não tenho problemas com a balança, não sou acima do peso, nunca fui, mas tem dias em que eu me sinto acima da (minha) média. Eu sei que sou considerada uma mulher magra, mas não sou definida a ponto de ostentar uma barriga chapada. Aonde, eu quero chegar com isso?! Na roupa branca até então, proibida para quem não tem um corpo considerado “perfeito”. Digo entre aspas, né colega?! afinal, perfeição só vamos achar no Photoshop.
A barriga sempre foi (meu) um tabu, corresponde a uma das partes do nosso corpo feminino, onde só pode exibir quem tem carimbo de aprovação. Barriga fora dos padrões, não deveria ser mostrada ou melhor, ao contrário deveria ser escondida. Sempre foi assim…eu sempre escondi.
Por isso, a roupa branca vem sendo associada a mulheres magras sem nenhuma gordura extra na região da barriga, sobrando para as cores escuras, a tarefa de “disfarçarem” o que por muito tempo foi considerado proibido – a gordura – como se ela fosse errada, como se ela fosse feia, como se ela fosse desnecessária ou inadequada.
A mulher que ousasse exibi-las, era sumariamente “detonada”, com comentários do tipo “essa daí não tem noção do ridículo, com essa banha aparecendo”. Imaginem, o que é para nós mulheres sermos bombardeadas desde a infância com essas frases cruéis?! Só podíamos crescer com a paranóia e baixa autoestima de nunca nos deixarmos levar pela própria vontade, e , sim, pela vontade alheia ou pela autoridade de terceiros, definindo assim, qual seria a regra para a gente mostrar a nossa barriga (coberta ou “de fora”), em looks brancos e claros.
Seja qual for o nível de encanação de cada uma de nós com o próprio corpo, ele tem algo em comum, sempre somos muito exigentes com ele. Não admitimos (de uma maneira geral) “falharmos”, o corpo perfeito está sempre fora do nosso alcance.
Quantas vezes você achou o seu corpo bonito?!
Quantas vezes achou ele perfeito pra você?!
Se eu fizer uma enquete, acho que a palavra NUNCA dispara na frente. Essa sensação de que a gente só valoriza o próprio corpo através do olhar do outro, é um descompasso tão grande com o nosso íntimo. Tenho a nítida sensação que eu só dou o devido crédito pro meu corpo, tempos depois, quando o tempo passa, no momento presente (quase) nunca. Eu já consigo me vestir para mim, minhas escolhas estão em compasso com o meu momento, com a minha idade, mas mesmo assim dentro das minhas escolhas, eu ainda titubeio na hora de encarar as cores de frente e suas possíveis “consequências” estéticas.
Taí, a irreal percepção do nosso corpo. Está mais do que na hora de desconstruir os velhos e retrógrados padrões impostos, e, principalmente por nossas crenças limitantes, não é mesmo?!! nada de usar cores escuras para se esconder, do que um dia foi considerado inadequado. Perceba e aceite seu corpo, por mais que a sua e a minha fala, AINDA não estejam no mesmo compasso e correspondam aos nossos sentimentos. Ninguém disse que seria fácil, desconstruir e ressignificar é um processo, mas sabemos que é possível. Isso é o que importa!