#Nos40DoSegundoTempo

A irreal percepção do nosso corpo

Dia desses escrevi no Instagram sobre a minha dificuldade em vestir roupas brancas, eu sou daquele tipo de mulher que sofre da velha “SRB” (síndrome da roupa branca), sensação pertencente a mania de achar que a cor tem o poder de “me deixar maior” ou aumentar as minha medidas – na barriga.

Aliás, quem nunca ouviu a frase clichê “Roupa branca engorda”, sendo estritamente proibida o seu uso para quem não fosse considerado padrão de modelo fitness/estético/passarela.

Sabe, aquele papo de que a cor branca engorda?! Então, eu sempre limitei o uso dessa cor em mim, achava que branco só valia pra quem tava magérrima, quantas vezes falei “Linda essa roupa, mas tem em preto?!”, esse vestido ? eu confesso, fiz a mesma pergunta, MAS na hora de provar, achei o branco tão mais astral, mais bonito, fiquei um pouco na dúvida e, pensei ? “Cara, se eu for esperar pra ficar do jeito que eu imagino pra poder usar a cor branca, talvez ou muito provavelmente eu morra sem usar o raio ⚡️dessa cor…quer saber, F*%#€ – S*” fui ✌? lá e levei o vestido ? na cor que eu gostei mais, tenho certeza, uma das melhores coisas da minha idade #nos40dosegundotempo é não se importar com a opinião alheia, sim, porque outro motivo eu teria para levar o preto se não o de que, ele visualmente me emagrece, né?! e, pra quem eu preciso parecer mais magra?! eu tenho que estar bem comigo e ponto final, só eu sei se preciso perder uns quilos, se eu quero perder uns quilos e quando eu quero perder esses quilos! Viva o BRANCO!!!!! ⚪️⚪️⚪️ • • • #roupabranca #branco #autoestima #autoconhecimento #mulherde40 #outfitoftheday #instafashion #mulheresestilosas

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Não, definitivamente eu não sou nenhum uma desses modelo, NUNCA almejei ter um corpo que saltasse aos olhos dos outros, não tenho absolutamente nada contra, acho legal, mas definitivamente não é para mim, por milhares de razões particulares, eu não teria a dedicação e abnegações necessárias para (no meu ponto de vista) tantos sacrifícios, tudo em prol de um pseudo padrão (criado/imposto) em relação ao meu corpo da mulher. Ok, algumas mulheres simplesmente não fazem esforço, são “modelos por natureza”, e, isso não tem problema algum. Não tenho a intenção de fazer apologia contra o corpo de quem quer que seja, apenas estou constatando o quanto essa relação pessoal de cada uma de nós, desde sempre foi tensa.

Meu negócio sempre foi comer sem culpa, sem restrições. Fato, não tenho problemas com a balança, não sou acima do peso, nunca fui, mas tem dias em que eu me sinto acima da (minha) média. Eu sei que sou considerada uma mulher magra, mas não sou definida a ponto de ostentar uma barriga chapada. Aonde, eu quero chegar com isso?! Na roupa branca até então, proibida para quem não tem um corpo considerado “perfeito”. Digo entre aspas, né colega?! afinal, perfeição só vamos achar no Photoshop.

A barriga sempre foi (meu) um tabu, corresponde a uma das partes do nosso corpo feminino, onde só pode exibir quem tem carimbo de aprovação. Barriga fora dos padrões, não deveria ser mostrada ou melhor, ao contrário deveria ser escondida. Sempre foi assim…eu sempre escondi.

Por isso, a roupa branca vem sendo associada a mulheres magras sem nenhuma gordura extra na região da barriga, sobrando para as cores escuras, a tarefa de “disfarçarem” o que por muito tempo foi considerado proibido – a gordura – como se ela fosse errada, como se ela fosse feia, como se ela fosse desnecessária ou inadequada.

A mulher que ousasse exibi-las, era sumariamente “detonada”, com comentários do tipo “essa daí não tem noção do ridículo, com essa banha aparecendo”. Imaginem, o que é para nós mulheres sermos bombardeadas desde a infância com essas frases cruéis?! Só podíamos crescer com a paranóia e baixa autoestima de nunca nos deixarmos levar pela própria vontade, e , sim, pela vontade alheia ou pela autoridade de terceiros, definindo assim, qual seria a regra para a gente mostrar a nossa barriga (coberta ou “de fora”), em looks brancos e claros.

Seja qual for o nível de encanação de cada uma de nós com o próprio corpo, ele tem algo em comum, sempre somos muito exigentes com ele. Não admitimos (de uma maneira geral) “falharmos”, o corpo perfeito está sempre fora do nosso alcance.

Quantas vezes você achou o seu corpo bonito?!
Quantas vezes achou ele perfeito pra você?!

Se eu fizer uma enquete, acho que a palavra NUNCA dispara na frente. Essa sensação de que a gente só valoriza o próprio corpo através do olhar do outro, é um descompasso tão grande com o nosso íntimo. Tenho a nítida sensação que eu só dou o devido crédito pro meu corpo, tempos depois, quando o tempo passa, no momento presente (quase) nunca. Eu já consigo me vestir para mim, minhas escolhas estão em compasso com o meu momento, com a minha idade, mas mesmo assim dentro das minhas escolhas, eu ainda titubeio na hora de encarar as cores de frente e suas possíveis “consequências” estéticas.

Taí, a irreal percepção do nosso corpo. Está mais do que na hora de desconstruir os velhos e retrógrados padrões impostos, e, principalmente por nossas crenças limitantes, não é mesmo?!! nada de usar cores escuras para se esconder, do que um dia foi considerado inadequado. Perceba e aceite seu corpo, por mais que a sua e a minha fala, AINDA não estejam no mesmo compasso e correspondam aos nossos sentimentos. Ninguém disse que seria fácil, desconstruir e ressignificar é um processo, mas sabemos que é possível. Isso é o que importa!

Rótulos, não me definem!

Menina faz ballet e menino faz judô. Sempre foi assim, quando uma mãe ou um pai fala sobre as atividades extra curriculares de seus filhos, geralmente os gêneros se encaixam nessa caixa de menino e menina. Padrões preestabelecidos em função de gênero. Não, não venham me falar que, se eu te dizer que meu filho faz ballet, a primeira coisa que provavelmente vai passar pela cabeça da grande maioria é – “ele deve ser gay” – como se um garoto não pudesse escolher apenas por interesse ou paixão, tem que ser gay.

Eu fiz ballet como manda o figurino, nunca me disseram que eu poderia fazer alguma luta ou artes marciais. Aliás, pelo que eu me lembro da minha infância, essa possibilidade nunca me foi oferecida. Não, não é uma crítica aos meus pais, apenas uma constatação do que sempre foi a normalidade. Sempre sonhei em ser princesa, em ter uma festa de princesa nos meus 15 anos, casar como princesa e com meu príncipe a tiracolo. Tudo isso, não aconteceu, pelo simples fato, eu não sou a Kate Middleton e o Beto não é o William Arthur Philip Louis, respectivamente Duque e Duquesa de Cambridge, futuros Rei & Rainha do Reino Unido.

Impressionante, como culturalmente estamos apegados aos rótulos, essa desconstrução é necessária e muito importante, ainda mais quando olhamos os índices do machismo brasileiros e mundiais. Ninguém nasce princesa, muito menos machão, essas “qualidades” nos são ensinadas/passadas desde sempre, desde muito pequenos. Somos limitados tanto do lado feminino, quanto do lado masculino.

Afinal, um menino com sensibilidade precisa se policiar para não virar piada, a menina que brinca com o quartel do “Comandos em Ação” passa a ser chamada de sapatão, sim isso aconteceu com a minha irmã na sua infância, tanto que, ela tentou esconder que havia ganhado esse presente até “ser descoberta” pela turma do prédio e cair na boca das crianças, todas devidamente preparadas para julgar o “diferente”.

Não, ela não virou sapatão por conta disso, aliás se ela fosse, 

tenho certeza absoluta que não seria por causa do brinquedo, né?!!

Mas, voltando para a desconstrução. Normalizamos as escolhas por padrões de gêneros. Ensinamos que nossas meninas são mais frágeis e os meninos mais fortes, na Medicina Tradicional Chinesa dizem que a energia feminina é diferente da energia masculina (1). Ponto. Mas, a verdade é que não é esse o ponto da divergência, uma simples energia, subjugamos as meninas e enaltecemos os meninos. Mostramos que eles podem ousar e que nós precisamos saber nos comportar “Nada de mostrar a calcinha, sente-se direito, afinal você é uma menina”. 

Que contradição foi essa que nós embarcamos coletivamente?! eu digo isso por mim também, forcei tanto a barra pra fazer da minha filha uma princesa que, o tiro saiu pela culatra. Eu que nunca fui princesa, tentei educar uma criança como uma. Decorei seu quarto em tons de rosa e verde, muitas estampas floridas e muito rococó. Hoje a cor preta é o ponto forte da sua decoração, as flores foram retiradas do quarto com fogos de artifícios por ela, rosa não entra nesse quarto nem por um decreto.

Eu dei apenas uma possibilidade pra minha filha, quando na verdade eu poderia ter dado um leque de opções. Isso inclui o meu filho, adivinhem qual era a cor do quarto dele?!

Estamos falando da cor dos quartos, uma bobagem, se realmente nos apegarmos aos pontos mais profundos dessa discussão. Isso, foi apenas um exemplo de como agimos de forma padronizada, sem ao menos nos questionarmos por um momento. Precisou passar um bom tempo, pra que eu pudesse realmente entender que eu agia de maneira totalmente cultural.

A crença de que meninas usam rosa e meninos usam azul, reforça os preconceitos, os estereótipos e tira de nós o melhor de cada um – a diversidade e, principalmente a liberdade – nós mulheres andamos sempre em alerta, afinal nos sentimos frágeis e incapazes perante a violência masculina, se tivéssemos sido educadas com a mesma sensação de igualdade dos meninos, culturamente seríamos muito mais respeitadas, não seríamos ameaçadas pelo espectro masculino.

Avon – Repense o Elogio

Recentemente, a Avon (marca de cosméticos) produziu um filme publicitário, onde os aspectos culturais de gêneros são debatidos – #repenseoelogio – resolvi ler os comentários. A cada comentário “primoroso” que um ser humano proferi sobre o assunto, um urso Panda morre por minuto, pois bem, vários morreram

Festival de preconceitos, imbecilidades e, os clássicos “Vai cuidar dos teus filhos Avon” ” Desde quando uma marca acha que pode nos ensinar a sermos pais”, enfim deixo pra vocês refletirem.

Fonte: Fórum Econômico Mundial

(1)“O Yin e o Yang, forças que, apesar de opostas, são integradas e inseparáveis, são representados na imagem de um círculo separado por uma linha que demarca duas metades, sendo que há uma parte de cor preta (representando yin) e uma parte branca (representando yang). Na parte branca há um pequeno círculo preto, assim como na parte preta há um pequeno círculo branco, o que simboliza que, mais que opostos e complementares, há uma parte yang na composição do yin, assim como há uma parte yin na composição do yang. De certa forma, esse é o princípio do TAO”