O Brasil e um país machista, sexista e misógino, um país onde as mulheres são violentadas a cada 11 minutos – isso significa, os casos notificados por parte das vítimas, e, certamente este número é muito maior, afinal nem todas nós denunciamos nossos algozes. Bastaria pouco, apenas o suficiente para criar um movimento contra toda essa tirania de gênero – nossos corpos nos pertencem -, mas foi preciso um caso de extrema brutalidade, hediondo, covarde para que a sociedade acordasse e saísse à luta, contra estes números alarmantes e essa terrível violência.
Ontem, foi dia de passeata, passeata contra a Cultura do Estupro e a favor da Mulher. Éramos milhares, gritando palavras de ordem, unidas por uma mesma causa, por um mesmo sentimento, houve choro, houve abraço, houve união, união que nos dá força para lutar, para buscar um país mais justo, onde eu, você e todas possamos andar pelas ruas sem medo de sermos atacadas, onde possamos estar em nossas casas, sem sermos violentadas por pessoas próximas a nós e que, muito menos sejamos parte de um estupro coletivo.
Ainda precisamos evoluir muito, a jovem de 16 anos foi vítima, mas para uma parte da sociedade, não. Ela foi julgada pelos tribunais da moralidade e bons costumes, foi ultrajada em sua dignidade, sofreu o que de pior pôde acontecer com uma mulher, teve seu corpo violado por vários homens, que debochavam da sua condição de mulher. Ainda assim, ela precisa provar que não é culpada.
Culpa essa que, certamente ela irá carregar no seu corpo, culpa que a fará se perguntar todos os dias “Porque eu?!”, culpa que afetará seus próximos relacionamentos, culpa que vai tirar sua confiança, culpa que vai levar sua auto-estima, para o lugar mais baixo do inferno, culpa que a fará se calar, culpa que ela vai tentar esconder para sempre, culpa que irá consumir sua alma…
Estupro no Brasil – Dados do IPEA
“A violência de gênero é um reflexo direto da ideologia patriarcal, que demarca explicitamente os papéis e as relações de poder entre homens e mulheres. Como subproduto do patriarcalismo, a cultura do machismo, disseminada muitas vezes de forma implícita ou sub-reptícia, coloca a mulher como objeto de desejo e de propriedade do homem, o que termina legitimando e alimentando diversos tipos de violência, entre os quais o estupro. Isto se dá por dois caminhos: pela imputação da culpa pelo ato à própria vítima (ao mesmo tempo em que coloca o algoz como vítima); e pela reprodução da estrutura e simbolismo de gênero dentro do próprio Sistema de Justiça Criminal (SJC), que vitimiza duplamente a mulher”.
“Conforme documentado na literatura, existem graves consequências do estupro, de curto e longo prazo, que se estendem no campo físico, psicológico e econômico. Além de lesões que a vítima pode sofrer nos órgãos genitais (principalmente nos casos envolvendo crianças), quando há o emprego de violência física, muitas vezes ocorrem também contusões e fraturas que, no limite, podem levar ao óbito da vítima. O estupro pode gerar gravidez indesejada e levar a vítima a contrair doenças sexualmente transmissíveis (DST). Em termos psicológicos, o estupro pode redundar em diversos transtornos, incluindo “depressão, fobias, ansiedade, uso de drogas ilícitas, tentativas de suicídio e síndrome de estresse pós- traumático”. A conjunção das consequências físicas e psicológicas leva ainda à perda de produtividade para a vítima, mas também impõe uma externalidade negativa para a sociedade em geral”.
A maioria esmagadora dos agressores é do sexo masculino
Masculino 92,55%
Feminino 1,80%
Características pessoais das vítimas de estupro
Feminino 88,5%
Masculino 11,5%
Faixa Etária
Crianças (até 13 anos) 50,7%
Adolescentes (entre 14 e 17 anos) 19,4%
Adultos (18 anos ou mais) 29,9%