Sempre me considerei uma pessoa muito organizada, no passado meu comportamento beirava o TOC ou total histeria, tamanho o grau de perfeccionismo que eu me imponha, tudo deveria estar no lugar, até os mínimos detalhes, inclusive uma simples gaveta de cabeceira. Podem imaginar quanto tempo perdido?! afinal, quem consegue o tempo todo deixar tudo arrumado?!

Com o passar dos anos fui ficando mais relaxada, mas não curada totalmente – continuo uma pessoa organizada, vivendo numa casa organizada, mas agora se não der pra arrumar hoje, fica pra amanhã ou depois. Não sofro mais em ver uma baguncinha espalhada, no sábado me permito ser (até) bagunceira dentro do meu próprio quarto. Ok, no domingo eu arrumo tudo, mas convenhamos, puta evolução da espécie, hein?!

Mas, porque eu estou falando da minha mania em organização?! simplesmente, pra chegar no papo sobre o meu desapego, que se me permitem andam de mãos dadas. Quando eu comecei a terapia, nunca imaginei que chegaria a dar um passo hiper/mega/blaster significativo em relação à minha coleção de bolsas, sim eu tenho (ou melhor, tinha) uma. Desde que me conheço por gente, sou apaixonada por elas, do tipo que fazia loucuras economicamente falando pelo alvo do meu objeto de desejo.

Minha excentricidade, acabou me rendendo “fama” entre as minhas amigas e os meus familiares, todos sabem à respeito desse meu investimento acumulativo nas bolsas. Todas elas são devidamente guardadas, uma a uma, em seus respectivos lugares dentro do meu closet, por ordem de importância, tamanho e uso. Sempre que uma nova bolsa chegava, as outras precisavam abrir caminho para a novata entrar, afinal nenhuma saia, em hipótese alguma, mesmo as mais velhinhas continuavam firmes e fortes, dentro dos meus domínios.

Costumava dizer que no futuro, criaria um museu para expor toda a minha coleção, modéstia à parte eu tinha coisa muito boa por lá, umas relíquias de vários momentos da moda – Museu das Bolsas da LuMich – tinha isso como certo, arranjaria um espaço na minha casa para a exposição, tipo aquelas que homenageiam um estilista no MET de Nova Iorque. Eu sei, metida, né?!

Bom, no começo desse ano, estava eu me restabelecendo de uma pequena cirurgia, no maior tédio em casa, olhando para o teto, quando tive um estalo e, disse – “chega!!” – sai catando metade das minha bolsas, foi sobrando até espaço dentro do closet, fiz um rapa gigantesco, tirei sapato, tirei roupa até com etiqueta, foram sacos de lixo (daqueles pretos enormes) cheios, que lotaram a minha sala de TV.

Demorei uns dias pra resolver o destino de tantas roupas, sapatos e bolsas. Fiz pequenas sacolas pra tanta gente, que levou dias pra eu conseguir entregar e assim poder ver a cor do meu sofá novamente. A cada sacola entregue, um sentimento de alívio invadia a minha alma. Achei que doar as bolsas, fosse a pior parte desse desapego ocorrido durante o meu momento de tédio, confesso que resgatei apenas uma das sacolas, mas foi só uma mesmo, juro. O resto foi indo pouco a pouco, uma a uma.

No final das contas, eu entendi do que se tratava todo esse movimento, mas que na verdade não foi assim tão repentino como eu narrei acima. Tudo isso fez parte de um processo longo, que lá no fundo eu precisei passar pra entender quem eu realmente era, afinal tudo aquilo apenas preenchia um vazio, alimentava um personagem, tapava uma ferida, mas não curava. Não há mal nenhum em curtir e amar bolsas, sigo amando- as, mas elas não são mais prioridades, elas não me escravizam mais e, principalmente, não representam quem eu sou. Não será uma bolsa, a responsável pelo o que eu represento. Saíram as bolsas e eu fiquei, do jeitinho como verdadeiramente eu sou.

Desapego é parte de um processo de auto conhecimento, a gente tira o excesso das coisas e sobra a nossa essência. A gente vai fundo. Tira tudo que está sobrando e fica com o que realmente dá paz. Uma libertação em todos os sentidos, a partir de agora, minha reflexão sobre mim é mais apurada, livre de tanta culpa e menos egocêntrica, minha caminhada é mais leve. O que simbolicamente, as bolsas representavam antes na minha vida, hoje elas deixaram de representar e de ter importância.

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